Vira-Lata

E dribla, corta-luz, em ziguezague,zanza Caminhando sorrateiro, de esgueio, no esteio Dessa noite, dessa fome, e desse veio sujo No espelho d'água Refletindo a barriga encardida e engraçada De tão magra, inchada, descadeirada Ossos de baleia no couro curtido Vivo e decidido Segue sem saber Sem desejo e sem querer Eterno porque está presente A gana do sobrevivente Não deixe a rua te catar, te mudar, te matar Voe baixo, como um vira-lata Baixo Baixo, como um vira-lata flutuando pelo ar Baixo, como um vira-lata flutuando pelo ar Baixo, como um vira-lata Baixo, como um vira Baixo, como um vira-lata Baixo, como um vira Baixo, como um vira-lata Baixo, como um vira Baixo, como um vira-lata Baixo, como um vira Vem de lá, vem de lá, vem de lá, nego falou Vira-lata em sampa, santo era em outro lugar Vem de lá, vem de lá, vem de lá, nego falou Inzoneiro, samba, zanza Zanza pelo ar E a rua atravessa o cão tão distraída A avenida segue quieta, perdida na batida Cuspida, escarrada, surrada, fudida suja e maltrapilha Só de ida e sem saída, todo mundo na avenida O nome é o distintivo que o mendigo não tem mais Já perdeu, tanto fez, tanto faz Nove vira-latas o mendigo tem Cada vira-lata um nome diferente traz Dignidade traz Dignidade faz Dignidade traz Dignidade faz É preciso acreditar que a rua Não é simplesmente atravessar a rua Que existe algum lugar Pra se chegar, pra se sonhar Pra se chegar, pra se sonhar Pra se chegar, pra se sonhar Pra se chegar, pra se sonhar Não deixe a rua te mudar, te quebrar, te matar Voe baixo como um vira-lata Flutuando baixo, baixo Baixo, como um vira-lata, baixo Baixo, como um vira-lata flutuando pelo ar Baixo, como um vira-lata Baixo, como um vira Baixo, como um vira-lata Baixo, como um vira Baixo, como um vira-lata Baixo, como um vira Baixo, como um vira-lata Baixo, como um vira Vem de lá, vem de lá, vem de lá, nego falou Vira-lata em sampa, santo era em outro lugar Vem de lá, vem de lá, vem de lá, nego falou Inzoneiro, samba, zanza Zanza pelo ar